Flávia Arruda
'O
sectarismo que vivemos hoje, irracional, ampliado pelas redes sociais e
seus efeitos multiplicadores de posições radicais, dificulta muito uma
discussão mais sensata sobre os gravíssimos problemas do país''
''Temos pessoas passando fome enquanto os 10% mais ricos concentram 41,9% da renda total do país. O IBGE nos revela que os mais pobres perderam mais de 3% da renda, enquanto os mais ricos cresceram 8%''Alguém já disse que o calendário esconde uma sábia renovação de esperança. O espírito de Natal e de virada de ano nos leva à reflexão sobre as lições do ano que está terminando e também a fazer planos para o ano que está chegando.
Em
2019, cheguei ao Congresso com muitos sonhos e eles foram testados,
logo de cara, pelo preconceito e pelas circunstâncias do radicalismo que
vivemos. O preconceito de ser mulher e esposa de um homem público, em
uma sociedade machista como a nossa, pesa muito.
Além
disso, o sectarismo que vivemos hoje, irracional, ampliado pelas redes
sociais e seus efeitos multiplicadores de posições radicais, dificulta
muito uma discussão mais sensata sobre os gravíssimos problemas do país.
Por
seu lado, aos poucos fui encontrando parlamentares experientes
dispostos a diálogo propositivo; jovens deputados cheios de esperança e
de vontade de trabalhar; servidores comprometidos em todas as esferas; e
líderes que foram abrindo espaços para novas ideias e percepções que
chegavam.
Ao
final do ano, depois de muito trabalho, estou muito feliz pelo que
avançamos. Criamos a comissão externa do combate ao feminicídio, que
presido, e creio que estamos dando não só visibilidade a essa epidemia
de violência contra as mulheres, como também uma contribuição efetiva ao
entendimento das suas causas e das formas de combater esse drama
nacional. Combate que já percebemos que, em todo o país, deve ter como
ações fundamentais o investimento na prevenção e educação, desde a
infância.
Estou
feliz também por ter sido escolhida para presidir a comissão que vai
reavaliar o programa Bolsa Família, a partir de proposta da deputada
Tabata e de outros jovens deputados. Projeto com perspectiva
interessante de que esse programa passe a ser de Estado, não apenas
política de governo, e que possa, a partir daí, ter menos uso político e
mais força para realmente diminuir as enormes desigualdades do país.
Vamos em busca de um programa que alcance as 4 milhões de crianças de
até 4 anos de idade que estão abaixo da linha da pobreza.
Basta
olhar para o lado, mas o mais recente Relatório de Desenvolvimento
Humano da Organização das Nações Unidas quantificou as desigualdades. O
levantamento coloca o Brasil em segundo lugar em má distribuição de
renda. Temos pessoas passando fome enquanto os 10% mais ricos concentram
41,9% da renda total do país. O IBGE nos revela que os mais pobres
perderam mais de 3% da renda, enquanto os mais ricos cresceram 8%.
Motiva-nos
nesse trabalho a certeza de que índices como esse e que nossas
desigualdades históricas só podem ser atenuados com políticas aplicadas
continuamente e avaliadas permanentemente. Com um entendimento de que a
superação esbarra em obstáculos não muito diferentes dos que fazem parte
da nossa história política como é a busca insensata por um salvador da
pátria, por soluções rápidas e milagrosas e a falta de canais de diálogo
produtivo e permanente entre as diferentes correntes de pensamento, mas
que esta legislatura possa traçar um caminho diferente.
No
plano local, conseguimos as emendas para a construção de Upas, creches
e, em perfeito entendimento com o GDF, alocar os recursos nas
prioridades da população como a estruturação da rede pública de saúde.
Recursos que muitas vezes se perderam por falta de projetos e diálogo.
Nesse
mesmo sentido, conseguimos também contribuir com o governo para retomar
políticas sociais que, aos poucos, vão ganhando eficiência. Tenho
dedicado o meu mandato a essas três linhas de ação: a defesa dos
direitos e da vida das mulheres, a busca de recursos para Brasília se
desenvolver e as políticas sociais que atendam quem mais precisa.
O
presidente Rodrigo Maia tem formado grupos de parlamentares focados nas
reformas, sobretudo na economia e nas políticas sociais. Talvez esse
seja o Congresso mais reformista do Brasil nos últimos anos e mais
antenado em estabelecer novos parâmetros para a nossa convivência social
e política. E temos atuado nessa direção, ouvindo a sociedade e fazendo
do Congresso, como deve ser, o grande palco das mais importantes
discussões nacionais.
Avançamos
e creio que poderemos avançar muito mais no próximo ano, diminuindo
radicalismos, combatendo posições sectárias, afastando surtos e
resquícios de autoritarismo e usando o diálogo como arma na busca de
leis e políticas públicas apropriadas para uma sociedade que busca a
diminuição das desigualdades, das injustiças e dos preconceitos.
*Flávia Arruda é Deputada Federal e Presidente da Comissão Externa do Combate ao Feminicídio da Câmara dos Deputados.
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Jornalista Ricardo Antunes
Por Ricardo Antunes
Ricardo Antunes Figueiredo
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