Pacientes e profissionais vêm sendo ameaçados por ações da polícia e de grupos armados
Incidentes recentes envolvendo as equipes e as atividades de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Porto Príncipe, bem como sérias ameaças que circulam nas redes sociais, estão comprometendo a segurança da equipe da organização e dos pacientes tratados em suas instalações, além de ameaçarem a capacidade de manutenção dos atendimentos no Haiti.
Na noite de 23 de fevereiro, homens armados tentaram invadir o hospital de MSF em Tabarre. “Indivíduos não identificados apontaram suas armas para a equipe e bateram na porta antes de tentar escalar a parede para entrar no complexo hospitalar”, diz Mahaman Bachard Iro, coordenador de MSF no Haiti. Após a tentativa de invasão, os indivíduos deixaram o local. “Pedimos a todas as partes que respeitem nossa ação médica, ainda mais pelo fato de MSF ser uma das últimas organizações internacionais que ainda prestam cuidados na capital haitiana”.
No início do dia 22 de fevereiro, entradas e saídas para o centro de emergência de MSF em Turgeau foram bloqueadas, e uma ambulância foi revistada. Recusando-se a baixar as armas, a polícia entrou no local para verificar a identidade de todos os pacientes registrados.
Algumas semanas antes, em 7 de fevereiro, outro incidente ocorreu quando uma ambulância claramente identificada como de MSF foi parada e revistada. Armas foram apontadas para os passageiros do veículo para verificar suas identidades. A ambulância ficou parada por mais de 45 minutos antes de ser autorizada a retomar sua jornada.
Além disso, desde o início do ano ocorreram dois confrontos violentos entre grupos armados a poucos metros do hospital de MSF em Cité Soleil, resultando na suspensão temporária de consultas e na evacuação provisória de alguns profissionais. Diante desses conflitos recorrentes e perturbadores, e do fato de que a linha de frente entre grupos armados está se aproximando do hospital, MSF teme que não seja mais capaz de trabalhar com segurança para continuar prestando assistência médica à população.
“Esses obstáculos frequentes na movimentação de nossas equipes em Porto Príncipe para transferir pacientes de um hospital para outro, essas intrusões violentas em nossas instalações médicas e o fogo cruzado nos portões de nossas unidades de saúde ameaçam seriamente a continuidade de nossas atividades”.
No passado recente, MSF fechou temporariamente o hospital em Drouillard em abril de 2022, encerrou permanentemente as atividades de seu centro de emergência em Martissant em junho de 2021 e suspendeu seu apoio ao hospital Raoul Pierre-Louis, em Carrefour, em janeiro de 2023, por razões de segurança.
As equipes de MSF estão presentes no Haiti há 30 anos, tratando de forma imparcial todos os pacientes que precisam de cuidados. Pedimos a todas as partes que respeitem nossa ação médica, incluindo pacientes, profissionais, hospitais e ambulâncias.
Nesse difícil contexto, todo o sistema de saúde haitiano está à beira do colapso, pois muitas estruturas de saúde não podem mais funcionar adequadamente. MSF também reitera seu compromisso com a população haitiana, as principais vítimas da violência que tem dilacerado o país durante anos.
Em 2022, equipes de MSF, em colaboração com o Ministério da Saúde, realizaram mais de 4.600 intervenções cirúrgicas, 34.200 consultas de emergência, trataram 2.600 ferimentos a bala e 370 vítimas de queimaduras. Durante o ano, MSF também forneceu 17.800 consultas em clínicas móveis, tratou 2.300 vítimas de violência sexual e realizou 700 partos. Desde que o primeiro caso de cólera do surto mais recente ocorreu no país, no final de setembro de 2022, nossas equipes também trataram mais de 19.000 pessoas.