De quinta a sábado (27 a 29 de julho), artistas e lideranças dos povos indígenas e comunidades negras levam arte e conhecimento para um dos espaços mais simbólicos de Brasília. O Memorial dos Povos Indígenas (MPI) recebe o Festival Agô - Música e Ancestralidade e o Seminário Fealha. Apresentações musicais e debates vão reverenciar a presença indígena no Distrito Federal, com entrada gratuita. Serão três dias de atividades com shows, oficina, feira e mesas promovendo o encontro entre mestres e jovens que têm na música sua conexão com o sagrado.
Nos debates, que começam já na quinta (27), o Seminário Fealha (“terra sagrada” no idioma yaathe, do povo Fulni-ô) vai reunir lideranças e pensadores indígenas e não indígenas que se destacam pela luta por território e direitos. A capoeira também se fará presente com uma roda aberta do grupo nZambi e uma oficina com a mestra Elma.
Na sexta (28), na programação musical do Agô (“licença”, em Yorubá), o público poderá conferir shows dos grupos Ponto Br, Ori (com participação da cantora Cris Pereira), Mulheres do Alto Xingu e povo Fulni-ô. Uma noite de cantos indígenas, cocos, cirandas, maracatus, sambas, tambor de Mina, bois, rojões e carimbós.
“As músicas cantadas pelas comunidades tradicionais são vividas de forma muito completa e complexa. A música vem com a língua, a dança, carrega a identidade de cada povo. Nosso compromisso é mostrar esse conjunto complexo que a música carrega”, ressalta Tâmara Jacinto, Diretora do Festival Agô.
O Festival Agô é uma realização da Onã Produções e tem o apoio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF e do próprio memorial. O projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC-DF). O Seminário Fealha conta com a parceria do Decanato de Extensão da Universidade de Brasília (UnB), que concederá créditos para os universitários que participarem das atividades.
Destaques
Uma das atrações mais esperadas do Agô, o coletivo Ponto Br traz alguns dos principais guardiões das culturas tradicionais brasileiras: Mestre Walter (Raízes da África - PE), Mestra Zezé de Iemanjá (Casa Fanti Ashanti - MA) e Ribinha de Maracanã (Bumba Boi de São Luís - MA). Eles desenvolvem um trabalho em diálogo com artistas conhecidos da cena contemporânea, como a paulistana Renata Amaral, o pernambucano Eder O Rocha, o suíço Thomas Rohrer e o maranhense Henrique Menezes.
Já o grupo Orí, de Pernambuco, apresenta músicas tradicionais de religiões de matrizes africanas e afro-brasileiras das nações Xambá e Nagô. Através de instrumentos melódicos, harmônicos e componentes eletrônicos, os músicos revelam a ancestralidade dos cantos e toques sagrados do Xangô Pernambucano, realizados principalmente para equilibrar e alimentar o Orí (cabeça, em Yorubá). Apadrinhado pelo maestro Letieres Leite, o grupo é formado por Beto da Xambá (violão), Memé da Xambá (voz), Thulio Xambá (cavaquinho), Nino da Xambá (flauta) e Tayna Hirlley (piano). No palco do Festival Agô, eles recebem a cantora Cris Pereira, uma potente e encantadora voz do samba de Brasília.
Os povos indígenas estarão presentes no Festival Agô por meio do canto do povo Fulni-ô e das mulheres indígenas do Alto Xingu. A principal aldeia Fulni-ô do Brasil fica próxima à cidade de Águas Belas (PE) e há também um território no noroeste de Brasília (DF): a Terra Indígena Santuário dos Pajés, um símbolo da luta contra a especulação imobiliária na capital federal.
Já as mulheres indígenas do Alto Xingu vêm do Mato Grosso para compartilhar parte do que é a Yamurikumã - festa ritual realizada por mulheres indígenas pertencentes às nove etnias do Alto Xingu. Durante todo o período da festa, as mulheres dominam o poder da aldeia, se adornam, cantam versos de canções tradicionais, lutam Huka Huka e realizam atividades que, em outros contextos, seriam permitidas apenas aos homens.
Bios artistas: https://bit.ly/InfosArtistasAgo
Debates
O Seminário Fealha terá mesas de quinta a sábado, em diferentes horários. A própria história do Memorial dos Povos Indígenas será tema de reflexão no primeiro dia do evento, mediada por João Carlos Albuquerque (UFSC/AYA). Também na quinta-feira, estudantes indígenas e quilombolas vão compartilhar projetos de futuro para o DF e entorno em um debate que contará com lideranças como Fetxawewe Tapuya Guajajara (Santuário dos Pajés/UnB), Manu Tuyuka (Povo Tuyuka) e Maria Helena - Tuya Kalunga (Comunidade Tinguizal Território Kalunga - GO), com mediação de Mônica Nogueira (UnB).
Para resgatar a história da milenar presença humana na região do Cerrado, foram convidados Francisco Pugliese (Museu de Arqueologia e Etnologia da USP e Departamento de Antropologia da Universidade da Flórida); Thais Lopes Rocha (UnB/SEEDF), Jôkàhkwyj Krahô (Povo Krahô/UFG) e Manoel Barbosa Neres (Quilombo Mesquita).
A mesa, que abre os trabalhos da tarde de sexta, terá a mediação do antropólogo, urbanista e co-coordenador do seminário, Paíque Santarém (UnB), que afirma sobre essa atividade: “O nosso objetivo é discutir a presença indígena no DF de forma imemorial, milenar, a partir do diálogo entre os distintos povos indígenas com outros distintos povos quilombolas, negros, periféricos e campesinos que habitam esse território. Precisamos visibilizar a presença indígena e negra no DF de forma a garantir políticas públicas.”
Também na sexta-feira, um debate sobre as trajetórias de quem migrou ao DF e aqui constituiu territórios sagrados, comunidades e santuários vai reunir Santxiê Fulniô Guajajara (Santuário dos Pajés), Cristiane Portela (Projeto Outras Brasílias/UnB), Baba Aurélio Lopes (Ilê Odé Axé Opo Inlé), Ayola, Dudu Mano, Singelo e Babi (Coletivo Mapa das Desigualdades do DF), com mediação da jornalista Raio Gomes.
Na tarde de sábado, Valéria Paiê (Fundo Podaali), Paulino Montejo (Apib) e Eunice Kerexu (MPI) falam sobre as histórias e conquistas do Acampamento Terra Livre (ATL), com mediação de Leila Saraiva, da UnB.Prestes a completar 18 anos, o ATL transforma Brasília em indígena uma vez por ano, já sendo considerada a maior assembleia indígena do mundo.
Santuário - De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o DF tem cerca de 6 mil indígenas. A maior parte deles está concentrada em área urbana. Do total, as três regiões administrativas com maior população indígena são Ceilândia, Planaltina e Samambaia. A única terra indígena delimitada no DF é a Terra Indígena Santuário Sagrado dos Pajés - Pajé Santxie Tapuya, localizada no Setor Noroeste, área de forte especulação imobiliária.
Em todo o país, os povos indígenas trazem uma importante contribuição para a diversidade cultural brasileira, com quase um milhão de pessoas organizadas em 305 etnias e 270 línguas distintas. A cosmologia indígena, de modo geral, além de contribuir com a formação da identidade do país, garante a manutenção e preservação da sociobiodiversidade brasileira.
Serviço
Festival Agô - Música e Ancestralidade / Seminário Fealha - Presença Indígena no DF
De 27 a 29 de julho (quinta a sábado)
Memorial dos Povos Indígenas
Mais informações: www.instagram.com/agoancestralidade/
Ingressos para o show Festival Agô (entrada gratuita)
Inscrição para o seminário Fealha
Assessoria de imprensa:
Paó Comunicação - 61 99276-2794 e 61 98179-9316
Programação Geral - Festival Agô + Fealha
Quinta - 27/07
18h15: Cantos com povo Fulni-ô e mulheres do Alto Xingu
18h30: Seminário Fealha: Memórias do Memorial dos Povos Indígenas
19h30: Seminário Fealha: Viver o presente, olhar o futuro
Sexta - 28/07
14h30: Seminário Fealha: Ancestralidade cerratense
16h30: Seminário Fealha: Trajetórias, povos e territórios
19h: Roda aberta de Capoeira Angola com Mestra Elma (MA) e grupo nZambi
20h30: Ori (PE) part. Cris Pereira (DF)
21h30: Cantos das Mulheres do Alto Xingu (MT)
22h: Cafurnas Fulni-ô (PE/DF)
22h30: Ponto BR (MA/PE/SP)
Sábado - 29/07
10h às 12h: Oficina de Capoeira Angola com Mestra Elma (nZambi)
15h às 16h: Seminário Fealha: Histórias e conquistas do Acampamento Terra Livre (ATL)