A sessão solene, na Câmara Legislativa, reuniu pais, especialistas e representantes do GDF para tratar do tema e debater a criação de políticas públicas para esse público
Ter um filho superdotado ou com altas habilidades tem sido um desafio para os pais, pela falta de estrutura e de profissionais habilitados na rede pública de ensino do Distrito Federal e em outras áreas-chave para o atendimento dessas faixas etárias. Com o propósito de contribuir com a solução dessa e de outras demandas urgentes para esse público, a Frente Parlamentar de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente com Altas Habilidades, oficializada nesta quinta-feira (17/8), já obteve retorno para questões importantes, que vinham se arrastando por algum tempo, como o acesso dos pais aos formulários dos filhos na rede ensino, que em breve estarão acessíveis no sistema da Secretaria de Educação, conforme anunciado durante a sessão solene de lançamento da Frente.
O anúncio foi feito por Renata Antunes, diretora da Diretoria de Educação Inclusiva e Atendimentos Educacionais Especializados, da Subsecretaria de Educação Inclusiva e Integral da Secretaria de Educação do DF. Renata reconheceu as falhas apontadas pelos pais quanto aos atendimentos dessas crianças e adolescentes na rede pública de ensino, mas afirmou que há sim, um trabalho sendo feito para melhorar esse serviço.
Além de antecipar que a partir do ano que vem esses pais poderão acessar os formulários com as informações escolares dos filhos, disponíveis no sistema Educa DF, ainda em construção, a diretora também anunciou que a Secretaria de Educação está concluindo a compra de kits de robótica para unidades de ensino com salas de recursos de altas habilidades. Renata encerrou a fala com outra boa notícia, sobre a abertura do Fórum Distrital da Educação Especial, com participação de pais de estudantes com altas habilidades, de professores, de profissionais da Saúde e de outros entes relacionados ao tema.
Motivada a criar a Frente Parlamentar após ouvir o relato de mães com filhos que têm altas habilidades, e que por isso enfrentam desafios únicos no desenvolvimento e integração na sociedade, a deputada Paula Belmonte (Cidadania) deixou claro que precisará do apoio dos pais e entidades envolvidas com o tema para que a Frente possa atuar de forma eficaz, cobrando dos órgãos competentes o devido atendimento a esse público. "É fundamental que sejam criadas medidas para identificar, apoiar e promover o pleno desenvolvimento desses jovens talentos", destacou a parlamentar. Segundo ela, a Frente visa promover a conscientização, o debate e a formulação de políticas públicas efetivas que atendam a esse grupo de forma adequada e inclusiva.
Desafios
Ana Lúcia Vazques moradora do Guará, mãe de uma criança de 8 anos, com altas habilidades, relatou parte das dificuldades enfrentadas na escola pública onde o filho estuda.
"Cada dia é um desafio para meu filho! Ele sofre muito, pela condição de Superdotação. Por muito tempo ele ficou isolado, por falta de conhecimento técnico e qualificação profissional dentro da própria escola. Por isso a importância de políticas públicas que interajam com a escola, para que essas crianças não se percam no meio do caminho", disse a mãe, emocionada.
Quem também enfrenta o desafio de ter um filho com a mesma condição é Gracilene Messias Gomes, mãe do pequeno Davi Gomes, de 10 anos. Estudante de uma escola pública, em Santa Maria, Davi não encontra na unidade escolar um ambiente adequado para desenvolver suas habilidades. "Meu filho faz música e é violonista, uma das habilidades identificadas. No entanto, a escola não oferece uma estrutura ou profissionais habilitados para que ele possa se desenvolver", desabafou. Além disso, Gracilene explica que a falta de professores capacitados já gera uma frustração e atrapalha o desenvolvimento de Davi, assim como a carência de um psicólogo na unidade de ensino. "Dessa forma, preciso procurar especialistas e um atendimento que não é oferecido na rede pública do DF", contou.
A representante das mães com filhos com altas habilidades/superdotados do DF, Aline dos Santos, afirmou que há um despreparo total nas unidades de ensino da rede pública do DF para identificar, acolher e desenvolver crianças nessa condição. "Alunos sem acompanhamento adequado podem ter dificuldade de ajustamento e adaptação. Além disso, muitos pais não têm condições de pagar profissionais habilitados para fazer um diagnóstico preciso, o que deve ser feito pela rede pública. Outro grande desafio é garantir oportunidade para desenvolvimento desses alunos em um contexto sociocultural", avaliou.
Durante o evento, houve a participação de diversos especialistas e educadores entre eles a dra. Olzeni Ribeiro, que há mais de 40 anos atua na área e atende crianças e adolescentes com altas habilidades/superdotados. A especialista pontuou que crianças e adolescentes com essa condição fazem parte de um grupo muito heterogêneo. "É impossível coloca-los em caixinhas", alertou.
Segundo a especialista, sempre normalmente a sociedade espera de crianças com essa condição, um perfil específico estereotipado, como se ela tivesse que ser gênio da Matemática ou da Língua Portuguesa, ou alguém que se destaque em tudo que faz. "Isso também é uma inverdade! Devemos olhar para dentro desse indivíduo e entender suas particularidades, pois cada um é único", destacou Olzeni. Para ela, é dever do Estado oferecer um ambiente externo acolhedor, que integre essa criança e propicie condições emocionais, psicológicas e de desenvolvimento pleno, com acompanhamento de profissionais habilitados.
A sessão contou com a participação de representantes da Secretaria de Educação (Renata Antunes); da Secretaria de Saúde (Fernanda Falcomer); do Conselho Brasileiro de Superdotação (Vera Lúcia Palmeira Pereira); da Faculdade de Educação (Liliane Machado); da UnB (Danielle Pamplona Nogueira e Renata Prado); da médica Olzeni Ribeiro; do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do DF (Ana Elisa Scussel); do Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais de Educação do DF (Patrícia Duarte); e do representante do Corpo de Bombeiros (Capitão Ricardo Pereira).
Com informações da Assessoria de Imprensa