A técnica, autorizada pelo Conselho Federal de Medicina no Brasil somente no final de 2021, começa a ganhar visibilidade no país
Médica e cientista Karolyn Sassi Ogliari, pós-doutora em Biologia Regenerativa e Células-Tronco - foto Felipe Gaiesky |
Autorizada somente em outubro de 2021, a utilização da membrana amniótica de recém nascidos para tratamentos clínicos começa a ganhar visibilidade e representa mais um avanço em prol das milhares de vítimas de queimaduras que ocorrem no Brasil todos os anos. De acordo com médica e cientista Karolyn Sassi Ogliari, pós-doutora em Biologia Regenerativa e Células-Tronco, estudos mostram que essa membrana pode atuar como um curativo biológico, pois apresenta células e outros componentes proteicos com potencial para proteger a ferida, acelerar a cicatrização e aliviar a dor.
"Essa técnica já é utilizado em muitos países da América Latina, América do Norte e Europa como curativo para queimaduras superficiais e profundas, tratamento de úlceras varicosas e em feridas causadas por diabetes, além de cirurgias oftalmológicas", explica Karolyn, que também é diretora do Hemocord, empresa de biotecnologia voltada para armazenamento de produtos de terapia celular para a Medicina Regenerativa, e única no Brasil onde pode ser contratado o serviço de coleta da membrana amniótica para fins terapêuticos.
A membrana amniótica é o tecido que compõe a parte mais interna do envoltório fetal e que sai junto com a placenta durante o nascimento do bebê, podendo ser coletada nesse momento. A placenta é levada então ao laboratório e lá processada para separação da membrana. Karolyn explica que esse material se trata de um curativo biológico pela riqueza em fatores de crescimento e citocinas que comprovadamente promovem a cicatrização de feridas.
"Ensaios clínicos para tratar queimaduras na pele e alterações na córnea mostram que as células-tronco da membrana amniótica aceleram a recuperação por meio da inibição da inflamação e da liberação de fatores de crescimento. As células-tronco mesenquimais amnióticas humanas tem funções de regulação imunológica, anti-inflamatória e regeneração de vasos. Por apresentar essas propriedades, a membrana tem múltiplos usos em diversas áreas da medicina", explica. "A maioria das terapias com este material biológico está direcionada ao tratamento de queimaduras graves, enfermidades oftalmológicas e cicatrização de feridas", explica.
Recentemente, o uso da membrana amniótica salvou a visão de um recém-nascido no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie (HUEM), em Curitiba. O pequeno Anthony Amaral havia nascido com uma má formação nos olhos – ambos não abriam após o nascimento. O procedimento, realizado pelo SUS, aconteceu no final de fevereiro de 2023 e foi um sucesso.
Protocolo patenteado
Karolyn explica que o Hemocord é a única empresa no Brasil onde a população pode contratar o serviço de coleta e armazenamento da membrana amniótica. De a cordo com a especialista, o protocolo patenteado pela empresa preserva as células vivas, que são biologicamente ativas. "Alguns meios de processamento não preservam as células, só a matriz celular. Desenvolvemos um protocolo que mantém as células vivas e produzindo essas moléculas que atuam na regeneração dos tecidos. O 'curativo' permanece biologicamente ativo e com uma produção maior desses componentes", explica.
A especialista explica ainda que, diferentemente do SUS, que armazena as amostras em freezer -80º, o Hemocord criopreserva em Nitrogênio, o que garante a manutenção do material pela vida toda. "No freezer a -80º, a preservação é por um tempo limitado, em torno de dois anos. No nitrogênio é por tempo indeterminado. E como não causa rejeição, pode ser usado pela própria criança ao longo da vida ou por algum familiar que precisar", comenta.
O desenvolvimento do protocolo do Hemocord foi publicado pela Biomedical Materials (2023) e apresentado no Simpósio Internacional Cord Blood Connect de 2022, em Miami.
Sobre o Hemocord
Com mais de 18 anos de atuação no mercado, o Hemocord é uma empresa de Biotecnologia voltada para a Terapia Celular e Medicina Regenerativa. Foi o primeiro Banco de Sangue de Cordão Umbilical com laboratório de Criopreservação no sul do país e único no Rio Grande do Sul. Evoluiu também para ser um Banco de Tecidos e um Banco de Células e Tecidos Germinativos, sendo a única empresa do país com licenças para crio preservar qualquer tecido humano. Está localizado em São Leopoldo, dentro do Tecnosinos - um dos maiores polos de ciência e tecnologia do Brasil. É lá que a empresa possui o seu Centro de Processamento Celular e de Criopreservação, onde os principais avanços e produtos de Terapia Celular são desenvolvidos por uma equipe altamente qualificada. São profissionais especializados em Obstetrícia, Reprodução Humana, Biologia Celular, Biologia Molecular e Criobiologia, buscando deixar as famílias preparadas para o melhor da medicina mundial.