Importante Acervo do Teatro Brasiliense é Resgatado no DF

O NAC – Núcleo de Arte e Cultura, responsável pelo Espaço G51 e Teatro Goldoni, contribuiu ao longo de décadas para a promoção teatral brasiliense. Agora, seu acervo passa por pesquisa e disponibilização ao público


Entre os anos 1990, 2000 e 2010, o NAC foi responsável por promover festivais, mostras, oficinas e centenas de temporadas teatrais com os mais diversos artistas do DF e do Brasil. Pelos palcos do Espaço G51 e do Teatro Goldoni passaram grandes artistas como Hugo Rodas, Dimer Monteiro, Alexandre Ribondi, Ary Para-raios, Verônica Moreno, entre outros. Os dois teatros também abriram espaço para jovens talentos oriundos dos cursos de Artes Cênicas da UnB e da Faculdade Dulcina de Moraes, sendo um ponto de encontro da juventude criativa e do público, que pode acompanhar obras de diferentes linguagens e estéticas.

O Teatro Goldoni fechou as portas em 2021. O prédio em que estava situado foi vendido e, com isso, parte de um rico acervo das artes cênicas esteve guardado, sendo revelado ao público agora por meio do projeto MEMÓRIA COMPARTILHADA, patrocinado pela Lei Paulo Gustavo.

O MEMÓRIA COMPARTILHADA revisita parte dessa história teatral do NAC por meio de triagem do material guardado. São jornais com notícias que recontam parte das artes cênicas do DF, bem como filipetas, cartazes, documentos, registros fotográficos e em vídeos. O desafio inicial do trabalho realizado pela equipe esteve voltado na organização desse acervo de forma cronológica ou tipológica.

O acervo abordado representa os esforços de 30 anos de um coletivo de produtores e artistas que dedicaram suas vidas ao Teatro de Brasília, o NAC – Núcleo de Arte e Cultura. Além de passar pelo teatro, o acervo conta com preciosidades do jornalismo local, reportagens antigas de televisão e mídia impressa, mostrando a evolução de disparo de releases que iam do FAX e da fita BETACAM ao e-mail e ao DVD de dados.

O Teatro Brasília já possui uma memória, que deve ser preservada e difundida para que novas gerações conheçam a sua evolução e tenham referências da nossa trajetória. Nesse contexto, esse importante acervo merece ser devidamente tratado e disponibilizado em plataforma aberta para o público. Parte do acervo será disponibilizada para consulta e apreciação via Tainacan - um software livre desenvolvido no Brasil por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás e da Universidade de Brasília. A sua escolha para difundir esse tipo de acervo se deve pela facilidade de configuração e uso e pelo suporte que a comunidade de desenvolvedores presta para seu uso.

Sem considerar sua crescente evolução, dando sinais de ser uma plataforma que tem compromisso a longo prazo com o armazenamento de dados culturais. A tarefa de dar o correto tratamento arquivístico para esse material e cuidar da sua difusão proporcionará uma base para a realização de novas pesquisas sobre as Artes Cênicas do DF, além de servir de subsídio para a realização de novos projetos de preservação da nossa memória cultural.

“Quando vim pra Brasília em 91, estranhei o fato de tantos atores se formarem em escolas de prestígio na cidade e não haver um teatro do tamanho ideal para abrigar estes novos profissionais. Um espaço que facilitasse a formação de grupos, que pudessem de fato experimentar o contato contínuo com o público, fundamental no exercício da função teatral. Deveria ser econômico e capaz de dar sustentabilidade para longas temporadas, além de viabilizar uma produção de baixo custo, com montagem de cenários eficazes em pequena escala. Como cenógrafa e com uma certa bagagem trazida do Rio, resolvi criar um espaço que proporcionasse oportunidade de espetáculos acontecerem desta forma, com estas pessoas.


A partir do final de 92, organizei com Iara Pietricovsky e Guilherme Reis o NAC e instalamos o Espaço G51 embaixo da minha casa na W3 Sul, onde, por cerca de quatro anos, apresentamos muitos espetáculos de vários artistas. Iara e Guilherme seguiram por novos caminhos, mas o sucesso e a procura motivaram-me a ir em frente, quando apareceu a oportunidade de uma parceria com a Casa d’Italia, ao permitir que fosse construído no segundo andar da instituição um espaço de cultura. Então com moderados recursos materiais, surgiu o Teatro Goldoni. Um teatro, de pequeno porte, com a capacidade para um público de 100 pessoas, especialmente criado para ser tecnicamente eficiente e flexível para atender às diferentes formas de relação palco/plateia.

O Goldoni atendeu às múltiplas demandas dos novos profissionais de cena, apresentou centenas de espetáculos durante os 24 anos de sua existência. Em 2022, num tempo de pós-pandemia difícil, fomos surpreendidos pela venda do terreno, que era uma concessão do governo à Casa d’Italia e tudo foi abaixo. Consegui manter o acervo de Figurino no Atelier Cenográfico Goldoni, para poder contribuir para a produção de filmes ou de novos espetáculos. O que tiro como lição e missão cumprida, foi o encorajamento da instalação de muitos outros teatros independentes, de pequeno porte, no DF, fato que muito me alegra”, conta a cenógrafa e curadora Maria Carmen de Souza.

Realizar o inventário, triagem, higienização do acervo dos teatros G51 e Goldoni e integrá-lo a uma base de dados é uma tarefa louvável, mas lenta. Digitalizar os documentos, cartazes e folhetos para inserir no site do projeto e disponibilizá-los de forma gratuita e organizada servirá como referência para pesquisas de interessados no estudo da história do Teatro e da Cultura no DF, alcançando professores, estudantes e pesquisadores de Artes Cênicas, Cultura e Economia Criativa de todo o Brasil.

Toda a ação contribuirá para a preservação da memória do Teatro do Distrito Federal, preservando o legado de um importante espaço onde diferentes lembranças se cruzam: as dos artistas, as dos produtores e as do público.


FICHA TÉCNICA
  • Coordenador Geral: André Mendes
  • Curadora: Maria Carmem
  • Consultor do Acervo e Assessor de Imprensa: Josuel Junior
  • Gestão de Documentos: Douglas Paiva (Arqui TI)
  • Produtora: Manoela Neves
  • Assistentes de Produção: Danny Furtado e Bruno Pierre
  • Realização: Lei Paulo Gustavo DF/ Ministério da Cultura
  • Apoio: Cecibra e Portal Conteúdo
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