Cabos elétricos expostos e tempestade não combinam. A prova disso foram as três vítimas que morreram eletrocutadas em PE após receberem descargas de postes e fios em meio aos diversos pontos de alagamento. Uma possível solução para proteger vidas e evitar apagões é o projeto de lei, reapresentado pelo deputado Marcelo Crivella, que pretende obrigar as concessionárias a substituírem as redes aéreas de distribuição de energia por redes subterrâneas.

Brasil, fevereiro: O total de óbitos desde o início das chuvas em Pernambuco chegou a sete. Entre as pessoas que morreram eletrocutadas estavam, Juan Pablo da Silva Melo, de 21 anos. Ele foi vítima do choque elétrico enquanto caminhava por uma área alagada no Centro do Recife. O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) confirmou que ele faleceu devido a eletroplessão – termo técnico que se refere à morte ou lesão causada por uma descarga elétrica acidental.
Outro caso de eletrochoque resultou na morte de Valdomiro Simões da Silva Neto, de 18 anos. Ele estava retornando do trabalho quando, ao passar por uma área alagada, tocou a parede de uma casa abandonada e sofreu o choque fatal. A terceira morte ocorreu na Região Metropolitana de Recife. A vítima foi Myriam Vitória Amorim da Silva, de 24 anos. Ela voltava da padaria quando foi atingida por uma descarga elétrica ao encostar em um poste. Essas fatalidades ocorreram por causa da queda de árvore nos fios elétricos. Os cabos soltos nos postes também causam acidentes que podem matar.
Um levantamento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mostrou que nos últimos anos foram registradas cerca de 36 mil ocorrências envolvendo fiações da rede elétrica e de telecomunicações. Mais de 4 mil pessoas perderam a vida, enquanto outros perderam a luz dentro dos domicílios. O apagão duplo, da vida e da força, reacendeu a necessidade de enterrar os fios da rede elétrica. Menos de 1% da fiação das ruas brasileiras é subterrânea, ou seja, enterrada. Enterrar a fiação é um projeto de lei que já tramita no Congresso Nacional e que obriga as concessionarias a substituírem as redes aéreas de distribuição de energia por redes subterrâneas.
A proposta foi protocolada em 2011 pelo então senador Marcelo Crivella, mas foi arquivada pós concessionárias pedirem uma audiência pública que não aconteceu. Agora, como deputado federal, o republicano reapresentou o projeto em outubro do ano passado, pós o apagão que deixou milhões de pessoas sem energia elétrica no País. Para o parlamentar, o debate não pode ser mais adiado. “A COP será em novembro. Um ano extraordinária para que o Brasil possa tomar as providencias preventivas para ficarmos imunes as mudanças climáticas que afetam as redes aéreas de distribuição de energia elétrica e a vida das pessoas”, ressalta. Caso seja aprovada a proposta exigirá a modernização dos serviços de energia elétrica em cidades acima de 300 mil habitantes, no prazo de 4 anos. “ Se seguirmos o exemplo dos EUA e Europa, que reduziu a fiação aérea que coloca em risco a vida das pessoas, vamos deixar um legado para próximas gerações”, comenta o parlamentar.
Especialistas garantem que a rede de energia subterrânea apresenta menor probabilidade de interrupção de energia, porque os componentes são a prova d’água, não param de funcionar com alagamento e evita mortes por descarga elétrica. Segundo o parlamentar, tal ação evitaria “interrupções frequentes causadas por eventos climáticos, onde milhares de famílias são afetadas diretamente, com perdas de alimentos na geladeira, aparelhos eletrônicos queimados e até a vida”. Outro fator importante sobre o texto, ressaltado pelo autor, é que a fiação subterrânea traria uma “economia a longo prazo”, pois reduziria o furto de energia e de cabos. “O impacto sobre a segurança pública seria enorme, prevenindo acidentes fatais relacionados à infraestrutura aérea”, finalizou.
Cenário :
Brasil perde a “ força” no cenário internacional e é um dos apagões do mundo:
Atualmente, menos de 1% da rede elétrica no Brasil é subterrânea. São Paulo tem apenas 60 quilômetros de cabos aterrados, enquanto cidades como Rio de Janeiro e Belo Horizonte têm 11% e 2%, respectivamente.
Enquanto na Europa, a média de tempo que as residências passaram sem luz foi de 12,2 minutos por ano em 2022 (mesmo com a crise energética causada pela guerra na Ucrânia), na maior cidade brasileira algumas famílias se queixam de mais de quatro dias sem energia.
Paris
Na contramão do Brasil, a rede elétrica subterrânea começou a ser instalada em 1910 na capital francesa. A cidade tem toda a sua fiação no subsolo há mais de 60 anos, instalada em túneis subterrâneos
Nova York
já possui 71% de seu cabeamento enterrado. São cerca de 150 mil quilômetros de fios debaixo da terra e quase 60 mil quilômetros de cabos aéreos.
Buenos Aires
Avança na substituição desde a década de 1950