Especialista em neuroliderança, Rogério Babler explica que falta “uberizar” a gestão de pessoas.

Uma pesquisa global conduzida pela Randstad revelou que o equilíbrio entre vida profissional e pessoal tornou-se a principal prioridade para 83% dos trabalhadores, praticamente empatada com a remuneração, que foi apontada por 82% dos entrevistados. Esse levantamento, que abrangeu 26.000 funcionários em 35 países, destaca uma mudança significativa nas expectativas dos profissionais em relação ao ambiente de trabalho.
No Brasil, essa tendência é ainda mais acentuada. Uma enquete realizada com mais de 30 mil respondentes indicou que 88% dos participantes preferem ganhar menos e ter qualidade de vida, enfatizando a importância de um ambiente corporativo que promova o bem-estar e a saúde mental.
Rogério Babler, especialista em neuroliderança e diretor geral da mhconsult, observa que essa mudança sugere uma compreensão mais profunda das necessidades humanas no ambiente corporativo. Ele afirma que, “de maneira simplificada, o ser humano possui dois sistemas-chave de funcionamento do cérebro: um responsável pela consciência, que se caracteriza por tudo aquilo que é pontual e deliberado; e outro que atua em aspectos habituais, automáticos e mais presentes no subconsciente".
“Basicamente esse sistema automático se afasta de qualquer percepção associada a emoções negativas e se aproxima daquilo que percebe como prazeroso. Se uma pessoa percebe que para ganhar dinheiro lhe traz menos satisfação, ela se afasta e não necessariamente essa decisão é consciente”.
Estamos vivendo um momento interessante na sociedade e dentro do mundo corporativo, onde ao mesmo tempo que se estimula o trabalho à distância, é cada vez mais necessário que a liderança se aproxime das pessoas e as tratem de maneira única, justamente para reconhecer gatilhos para retenção de seus profissionais chave. Dá muito mais trabalho para se fazer gestão e por isso que a própria liderança tem se sentido sobrecarregada, pois no final do dia, há resultado para se entregar.
Babler explica que o líder não precisa encarar esse cenário como um problema e sim como um paradoxo, onde diversas demandas (remuneração, qualidade de vida, resultados empresariais) podem conviver. A diferença é que uma política padrão para toda a empresa já não funciona mais. O líder (com suporte do RH) precisa “uberizar” a gestão de pessoas, tratar demandas diferentes de forma distinta. A sugestão é iniciar essa transformação com aqueles profissionais que fazem a diferença para os resultados.
Ouvir a pessoa, ter conversas francas sobre propósitos estimula uma cultura de confiança, autonomia e colaboração. As saídas inovadoras são co-construídas entre gestor, colaborador e RH. Não é mágica, é mudança de foco, com disciplina, destaca Babler.
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Rogério Babler |