Golpe bilionário levou à queda do presidente do instituto e revelou esquema com associações de fachada
Uma fraude bilionária que agia nas sombras da Previdência Social veio à tona nesta semana com a deflagração da Operação “Sem Desconto”, da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU). O esquema, que levou ao afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, pode ter desviado mais de R$6 bilhões de aposentados e pensionistas em todo o país entre 2019 e 2024, por meio de descontos automáticos realizados sem autorização nos contracheques dos beneficiários.
Parte das denúncias partiu da Associação Brasileira de Defesa dos Clientes e Consumidores de Operações Financeiras e Bancárias (ABRADEB), que desde 2024 vinha alertando sobre as irregularidades. A entidade foi pioneira ao ingressar com uma Ação Civil Pública contra o INSS, a Dataprev e 33 associações envolvidas. Mesmo com auditorias comprovando que 90% dos aposentados descontados não reconheciam vínculo com as entidades, o Judiciário, na época, negou o pedido de liminar para suspender os Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) que autorizavam os repasses.
Diante da omissão institucional e da continuidade dos descontos, a ABRADEB lançou a cartilha "Golpe Silencioso", um guia prático que ensina o segurado a identificar e cancelar cobranças indevidas diretamente no aplicativo Meu INSS.
“Essa cartilha é uma ferramenta essencial de defesa para o aposentado que está sozinho diante de um sistema que falhou em protegê-lo. Milhões de brasileiros foram vítimas desse golpe silencioso. Com o passo a passo oferecido pela ABRADEB, é possível descobrir e barrar descontos que estão corroendo os benefícios de quem mais precisa”, afirma o presidente da associação, Raimundo Nonato.
A cartilha alerta para o fato de que muitas associações usaram dados dos segurados sem consentimento, inscrevendo-os em serviços não solicitados e realizando descontos mensais sem qualquer aviso prévio. A prática atingiu, principalmente, idosos e pessoas com baixa escolaridade.
As investigações revelaram que, mesmo após determinações do Tribunal de Contas da União (TCU) e alertas internos, o INSS renovou acordos com entidades suspeitas em 2024. A atuação omissa da alta gestão resultou em seis prisões temporárias, 211 mandados de busca e apreensão, e no sequestro de bens avaliados em R$ 1 bilhão, incluindo veículos de luxo, joias e dinheiro em espécie.
“Apesar da extrema relevância das ações policiais, é importante lembrar que essa fraude só ganhou escala porque o Poder Judiciário, em 2024, se recusou a suspender os ACTs mesmo diante de provas robustas. Estamos reiterando à Justiça que ainda há tempo de corrigir essa falha e proteger os aposentados”, reforça Raimundo Nonato.
A ABRADEB calcula que, apenas em 2024, cerca de R$300 milhões por mês foram subtraídos de forma indevida dos segurados, valor que pode ultrapassar os R$9 bilhões em dez anos. Na Justiça, a associação cobra uma reparação de R$112,3 bilhões por danos materiais, morais e sociais.
Além disso, a entidade continua oferecendo orientação gratuita aos prejudicados e destaca que, em caso de suspeita, o aposentado deve acessar seu extrato no Meu INSS, localizar a seção “Mensalidade Associativa” e, caso haja cobranças desconhecidas, solicitar a exclusão.
Para acessar a cartilha “Golpe Silencioso” e aprender como se proteger, basta procurar os canais oficiais da ABRADEB. O material é gratuito e pode ser compartilhado com familiares e amigos que também possam estar sendo afetados por esse esquema.
“A prevenção começa com a informação. Nossa missão é garantir que cada beneficiário do INSS saiba o que está sendo descontado de sua aposentadoria e, mais importante, que tenha meios de cancelar essas cobranças injustas antes que causem prejuízos ainda maiores”, conclui o Presidente.
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Presidente da associação ABRADEB, Raimundo Nonato |